Boas noites e bons ventos…
Olho pela janela que dá para o pátio onde está plantada esta nossa humilde taverna, e constato que o Outono espreita pela mesma como se quisesse entrar também…
O Verão está de partida e com ele a infame apatia que contamina tudo e todos, fazendo-nos sorrir aparvalhadamente por simplesmente ser Verão!
Mas adiante que a Lua já vai alta…
Hoje venho-vos falar de uma vil criatura que tem por habito assombrar as mentes femininas, desde que comprometidas…
Ao contrário dos Anjos a “outra” tem sexo (ou género, como acharem melhor) e um arcaboiço invejável (ao nível da Esfinge, não sei se estão a ver a coisa?) pois leva ás costas um fardo digno de Hércules…
A “outra” é segundo a língua Portuguesa um pronome demonstrativo em termos gramaticais, mas não será deste aspecto que da “outra” vos falarei nesta dissertação!
Oiço amiúde por portas e casais “ah e tal, tens outra!” ou ainda na versão interrogativa (para os mais inseguros) “ah e tal, tens outra?”. Tanto num caso como outro constato que a “outra” é sinónimo de “amante”, isto é, o respectivo anda a merendar em quinta alheia!
Sempre que as coisas não navegam em mares de tranquilidade oiço as “respectivas” acusarem os “respectivos” de manterem uma relação extraconjugal com outra mulher, agravando-se a situação quando o regresso a casa do emprego começa a ser feito mais tarde, ou os gostos musicais, teatrais, gastronómicos, sexuais, etc. mudam sem aparente razão dita valida e/ou fundamentada. Resumindo: quando a conduta do respectivo sofre algum tipo de alteração, a mesma deve-se á “outra”.
O que acho caricato é que o argumento “outra” serve para uma série infindável de situações e circunstancias, algumas até que desafiam as leis da física ao ponto de alguém (o respectivo amo da “outra”) ter o dom da ubiquidade e estar presente em mais que um local ao mesmo tempo, incrível…
Minhas caríssimas amigas;
Não deixem que a revolta vos tolde a vista pois este mui humilde taberneiro tem presente que este episodio pode e dá-se no sentido inverso, menos significativamente mas acontece, é certo…
Agora que penso me ter redimido perante vós, arrisco dar-vos um auspício:
Tanto o trabalho acumulado como o trânsito têm o poder de nos fazer chegar a casa mais tarde.
Com o passar dos anos, desde que o alvo deste meu ponto de vista tente se manter minimamente actualizado, nós homens mudamos alguns comportamentos com o intuito de acompanhar os tempos, e não somente por ter alguém fora de portas.
As pessoas mudam, ponto! Não existe ninguém que se mantenha imutável no tempo e no espaço.
Lá diz o ditado “Enquanto os flexíveis galhos do Choupo se dobram sob o peso da neve lançando-a no chão, os do Carvalho resistem estoicamente acabando quebrados.”
Assim é nas árvores… e nos Homens!
Inocêncio da Silva