Dissertações e relatos de dois taberneiros sobre coisas mundanas...e não só.

26
Mar 08

Primando por uma linguagem cifrada e simbólica, esta tradição hermético-alquímica tem caminhado ocultamente ao longo dos tempos, visando fabricar a célebre e muito ambicionada Pedra Filosofal, substância essa, que permite ao Alquimista transmutar metais impuros em ouro e obter a medicina universal – o elixir da juventude eterna.

Grosso modo, o Alquimista dedica-se a unir nupcialmente em vera coincidentia oppositorum, os dois princípios contrários e complementares, ou seja, o Masculino e o Feminino nas suas formas representativas.

Depois de sujeita a várias manipulações, a matéria é encerrada no Ovo Filosófico, pequeno balão de vidro ou cristal que se leva a aquecer no athanor, e será sob a sua influência que a matéria se transmuta e sublima…nigredo, albedo, citrino e finalmente rubedo de onde emergirá a Pedra rubificada, a qual possuirá os dois sublimes destinos: a conversão de metais vis em ouro e a preparação de panaceia universal!

 

…e se este faustoso aparato não for apenas uma representação de algo filosoficamente magno? Não fará sentido a analogia de todo este complexo ritual a uma abordagem sobre a vida e as voltas que ela dá?

 

E se o meu coração tomar a forma oval e encerrar em si a matéria que posteriormente será acalorada, matéria essa que sofrerá fases de desenvolvimento e apuramento, emergindo triunfante da morte alquímica sob a forma de metal nobre e imortal?

 

Gostaria de pensar que sim, que os Alquimistas deixaram um legado, não de metalurgia audaciosa, mas sim de como transmutar o chumbo das dificuldades e tristezas em ouro de felicidade e satisfação. Se considerarmos algo ignóbil que tenhamos em mãos como matéria, e o Ovo Filosófico como o nosso próprio coração que é aquecido pelo metabolismo, creio que temos reunidas todas as condições para dar inicio à transmutação do “odioso episódio” ou “vil sensação” em algo sumptuoso!

 

Todavia, existe algo que me intriga. Segundo os Alquimistas é impreterível que os dois princípios contrários se unam num casamento alquímico!

Será necessário ao homem revelar em si mesmo o feminino?

Será necessário à mulher revelar em si mesma o masculino?

Seremos nós incompletos por nos termos individualizado numa ou noutra versão humana, abdicando assim da imortalidade? E a troco de quê? De sexo? Será???

 

Seja como for não posso deixar de exaltar esta filosofia de vida, que mesmo aparentando alguma complexidade, parece-me bastante acessível a todos os meus confrades e amigos.


 


Inocêncio da Silva

publicado por Inocêncio da Silva às 14:37

19
Mar 08

A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como Cavaco, Durão e Guterres. Agora dizemos que Sócrates não serve. E o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada. Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão que foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates. O problema está em nós.
Nós
como povo. Nós como matéria-prima de um país. Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais do que o euro. Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais. Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO.


Pertenço ao país onde as EMPRESAS PRIVADAS são fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa, como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos....e para eles mesmos. Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos.
Pertenço a um país onde a falta de pontualidade é um hábito. Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano. Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e depois reclamam do governo por não limpar os esgotos. Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros. Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é "muito chato ter que ler") e não há consciência nem memória política, histórica nem económica.
Onde os nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprovar projectos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média e beneficiar alguns.

Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicas podem ser "compradas", sem se fazer qualquer exame. Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não lhe dar o lugar. Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão. Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes. Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não ser multado. Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu como português, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas.   Não. Não. Não. Já basta.


Como "matéria-prima" de um país, temos muitas coisas boas, mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que o nosso país precisa.
Esses defeitos, essa "CHICO-ESPERTERTICE PORTUGUESA" congénita, essa desonestidade  em pequena escala, que depois cresce e evolui até se converter em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade humana, mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é real e honestamente má, porque todos eles são portugueses como nós, ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não noutra parte... Fico triste.
Porque, ainda que Sócrates se fosse embora hoje, o próximo que o suceder terá que continuar a trabalhar com a mesma matéria-prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos. E não poderá fazer nada... Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá. Nem serviu Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco, e nem serve Sócrates, nem servirá o que vier. Qual é a alternativa? Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror?  

Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa "outra coisa" não
comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente
condenados, igualmente estancados....igualmente abusados!   É muito bom
ser português. Mas quando essa portugalidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação,
então tudo muda...  Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos mandam um Messias.


Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos portugueses nada poderá fazer. Está muito claro... Somos nós que temos que mudar.  Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a acontecer-nos:
desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e
francamente tolerantes com o fracasso. É a indústria da desculpa e da estupidez. Agora, depois desta mensagem, francamente decidi procurar o responsável, não para o castigar, mas para lhe exigir (sim, exigir) que melhore o seu comportamento e que não se faça de mouco, de desentendido. Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO DE QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO. AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO NOUTRO LADO.

E você, o que pensa?.... MEDITE!

EDUARDO PRADO COELHO

publicado por Inocêncio da Silva às 20:54

14
Mar 08

Boas noites e bons ventos…

Junto de mim estão Vesalio e DaVinci, os dois aliados desta nobre casa sobre os quais recitei um prólogo há algum tempo atrás, e tal como prometido venho dar a conhecer um parecer mais ou menos técnico sobre algo que apoquenta não só as suas almas, mas também as de muito mancebo que desta modesta taverna se abeira: O momento da fidelidade.

Defino “o momento da fidelidade” como o segundo temporal em que um homem comprometido nega ou aceita um declarado “embrulhanço” no decorrer de um embate com uma moça que se tenha voluntariado para tal faina.

Tanto Vesalio como DaVinci já fitaram nos olhos a citada “Hora H” em mais que uma ocasião, e embora tivessem na mente objectivos diferentes, ambos retiram conclusões bastante parecidas.

Segundo estes senhores do renascimento, para se ser fiel é preciso ter vontade de o ser, e tendo em conta que para o sexo masculino é mais trabalhoso manter a abstinência do que prevaricar, facilmente se conclui que terá que haver uma vontade férrea para que a fidelidade se mantenha aquando de uma confrontação.

Recomenda-se uma presença de espírito permanente devido à natureza masculina em “saltar a cerca”, e nunca perder de vista a costa da “promessa dada” que viaja a bombordo.

Segundo DaVinci, existe um instante em que, tanto na guerra como no amor, se ganha ou se perde uma batalha, não sendo este caso uma excepção. É fácil um homem se deixar enovelar nas malhas do desejo, demasiado fácil… a sua natureza parece soprar nas velas da sua libido em direcção a quem porto lhe ofereça, mas haverá sempre um momento em que esse “homem prestes a atracar” será assaltado por uma frieza e clareza de espírito típicos de quem navega. A esse momento chama-lhe Vesalio “o momento da fidelidade” e será durante a sua curta existência que se apunhala a fidelidade ou a mesma se mantém incólume. Este momento existe em todos os relacionamentos humanos, sejam eles bélicos ou amorosos, e são determinantes no sucesso dos mesmos independentemente das circunstâncias.

DaVinci adianta algo mais pois segundo ele, um homem terá que ser fiel à sua própria palavra e consciência pois é com estas duas senhoras que se deita todas as noites…estando acompanhado na alcova ou não!

Apesar da tão malfadada fidelidade ser amplamente aceite pelos confrades masculinos, e algo ignóbil no meio feminino, logo, estes dois senhores tiveram a necessidade de traçar uma rota que os desviasse dos corais da dúvida e incerteza rumando sem incidentes por este mar de tormentas que são as relações quotidianas. A constância da palavra dada no passado a uma mulher é algo sagrado para eles e para as suas respectivas companheiras, e mesmo que a dita não seja merecedora de tal devoção, um homem terá que ser fiel a si próprio assim como à sua palavra.

Terá que duplicar as atenções com o passar do tempo, pois segundo os supracitados senhores a paixão desaparece sempre (ou quase sempre) primeiro nos homens do que nas mulheres…e penso ser inútil relembrar que quando a chama da paixão se começa a extinguir a chama dos olhos começa a despontar, e as atenções voltam-se novamente para o terreno de caça.

 

Fica a advertência…


 

Inocêncio da Silva

 

publicado por Inocêncio da Silva às 13:12

07
Mar 08

Muito se poderia dizer sobre a dúvida e a forma como ela nos condiciona ou nos dá alento…

Sim, alento, pois eu advogo que da dúvida nasce a apetecida felicidade que todos desejam em todo o seu fulgor.

O ser humano precisa da incógnita para ser feliz, da incerteza, do risco, da dúvida, em todas as expressões da sua vida e até onde os tentáculos da mesma alcançam.

Quem se lança à aventura para pôr fim a uma determinada dúvida, na verdade o seu intento é apenas o de a tornar mais firme, mais robusta, mais inatingível.

Não conseguimos vencer o desejo oculto de mostrar ao mundo e a nós próprios o quão inacessíveis estão as coisas sobre as quais duvidamos da existência, e não que as mesmas, por vezes, simplesmente não existem.

A felicidade repousa no desconhecimento completo sobre a nossa última hora, por termos noção que a mesma nos faz enlouquecer e perder a razão. Vivemos uma vida apenas com a certeza: que esta terminará um dia. Mas o facto de a desconhecermos é o que nos dá o desejo de perpetuar a nossa obra e espécie, as nossas relações, a nossa evolução e imprimindo nesta o que de melhor temos para ofertar.

Faz exaltar o que de melhor um homem tem no seu âmago, pois quando tudo é dúvida e breu, é nesse momento que mais um homem brilha e se sente completo.

Levamos dúvidas para todo o lado, mesmo sem que disso nos dêmos conta, inclusive para a cama, pois quem nunca imaginou que talvez fosse aquele o seu último sono?

E os intrépidos que procuram a todo o custo saciar o seu vício de adrenalina, não serão eles também uma expressão desse mesmo desejo, chegando a arriscar a vida por tal demanda? Levam ao limiar da sanidade uma saga que começou no momento do nosso primeiro fôlego e que só terminará no último.

Desconheço quem detenha todas as verdades e todas as certezas, mas tenho a certeza que decerto é alguém muito amargo e miserável, pois foi-lhe roubado o sal da vida.

Procuramos a dúvida onde ela não existe, e o facto de não a encontrarmos só incendeia ainda mais a crença da mesma e a alegria começa a surgir.

A ficção que aborda esta matéria vende milhões, tal é a nossa sede do (des)conhecimento, tal é forma que como perseguimos a ignorância, e neste molde atulhamos o crânio de mais dúvidas e ambiguidades.

Quem ignora, tem todas as portas abertas…quem tudo enxerga, as mesmas nem tão-pouco existem.

 

Precisamos da dúvida para que exista o derradeiro sentimento, aquele que estoicamente tem salvo a humanidade, século após século, e quem sem ele, acredito que nunca teríamos chegado a esta era: a Esperança. Sem ela, nunca existiria o ímpeto de vencer a tragédia quando tudo já sucumbiu, ou a vontade de ultrapassar o desejo piedoso de se deixar morrer, terminando desta forma inglória uma vida humana.

 

A dúvida nasce com a vida e morre com ela… e quem disto duvidar, mais douto e mais miserável torna quem sobre ela escreve.   

 


Inocêncio da Silva
publicado por Inocêncio da Silva às 15:40

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