Primando por uma linguagem cifrada e simbólica, esta tradição hermético-alquímica tem caminhado ocultamente ao longo dos tempos, visando fabricar a célebre e muito ambicionada Pedra Filosofal, substância essa, que permite ao Alquimista transmutar metais impuros em ouro e obter a medicina universal – o elixir da juventude eterna.
Grosso modo, o Alquimista dedica-se a unir nupcialmente em vera coincidentia oppositorum, os dois princípios contrários e complementares, ou seja, o Masculino e o Feminino nas suas formas representativas.
Depois de sujeita a várias manipulações, a matéria é encerrada no Ovo Filosófico, pequeno balão de vidro ou cristal que se leva a aquecer no athanor, e será sob a sua influência que a matéria se transmuta e sublima…nigredo, albedo, citrino e finalmente rubedo de onde emergirá a Pedra rubificada, a qual possuirá os dois sublimes destinos: a conversão de metais vis em ouro e a preparação de panaceia universal!
…e se este faustoso aparato não for apenas uma representação de algo filosoficamente magno? Não fará sentido a analogia de todo este complexo ritual a uma abordagem sobre a vida e as voltas que ela dá?
E se o meu coração tomar a forma oval e encerrar em si a matéria que posteriormente será acalorada, matéria essa que sofrerá fases de desenvolvimento e apuramento, emergindo triunfante da morte alquímica sob a forma de metal nobre e imortal?
Gostaria de pensar que sim, que os Alquimistas deixaram um legado, não de metalurgia audaciosa, mas sim de como transmutar o chumbo das dificuldades e tristezas em ouro de felicidade e satisfação. Se considerarmos algo ignóbil que tenhamos em mãos como matéria, e o Ovo Filosófico como o nosso próprio coração que é aquecido pelo metabolismo, creio que temos reunidas todas as condições para dar inicio à transmutação do “odioso episódio” ou “vil sensação” em algo sumptuoso!
Todavia, existe algo que me intriga. Segundo os Alquimistas é impreterível que os dois princípios contrários se unam num casamento alquímico!
Será necessário ao homem revelar em si mesmo o feminino?
Será necessário à mulher revelar em si mesma o masculino?
Seremos nós incompletos por nos termos individualizado numa ou noutra versão humana, abdicando assim da imortalidade? E a troco de quê? De sexo? Será???
Seja como for não posso deixar de exaltar esta filosofia de vida, que mesmo aparentando alguma complexidade, parece-me bastante acessível a todos os meus confrades e amigos.
Inocêncio da Silva