Dissertações e relatos de dois taberneiros sobre coisas mundanas...e não só.

27
Jan 08

Não querendo parecer ou ser sexista creio que o assunto sobre o qual me debruçarei em mais uma reflexão precisa de um enquadramento e de intervenientes, e como o ditame para tal empresa veio de um camarada de armas (homem portanto…) e focado sobre uma mulher, poderá levar alguns a pensar que este energúmeno só vê saias dado que só escreve sobre elas…Nada mais errado até porque, como verão mais adiante, este juízo e outros que se vão falando nesta taverna poderá ser identificado ou desvelado por ambos os sexos.

 

                                                

Este jovial rapazote conta-nos a história de um relacionamento seu com uma moça e que terminou de uma forma algo bizarra: despediram-se após uma noite exemplar, e nunca mais voltaram a ver-se…

Nenhum dos dois supôs que seria a última vez que se tocariam as mãos e trocariam olhares!...

Sem uma zanga, amuo, arrufo…nada!

Um mero capricho do Destino talvez, digo eu…

 

Mas a verdade é esta: segundo ele, esta mulher foi e é perfeita, pois o tempo que dividiu com ele foi laureado com uma brancura imaculada de perfeição, só comparada com o gelo que cobre as manhãs de Primavera ainda demasiado apegada aos rigores do Inverno que findou…

As palavras certas na altura certa, magistralmente orquestradas pela batuta de algo Divino que parecia conspirar para que aqueles dois terminassem num beijo…

Tudo fluido, tudo primoroso, tudo perfeito…como ela!

 

“Até amanhã?”

 

“Sim, até amanhã…ah, e adorei esta noite!”

 

“Eu também…”

 

…E foram estas as últimas palavras que trocaram!

 

Esta mulher congelada no tempo na sua forma mais cândida, tem guardados na sua mão momentos também eles irrepreensíveis e que se conservam desta forma na memória do nosso amigo.

A verdade é que todos somos ou fomos perfeitos um dia…

Quem nunca se sentiu ofuscado pela luz de alguém que nos tocava particularmente numa dada altura das nossas vidas? E essa mesma luz de tão forte que era, varria os pequenos defeitos que todos temos, fundindo-os naquela aura de encanto! Perante tal deslumbre o que são indícios de mau feitio? Envoltos em tal turbilhão de beleza, não são mais que pequenos traços…

O velho e obstinado tempo é o responsável pelo decadente apagar de tal chama, deixando as sombras e os medos acumularem de velhice a fronte de quem um dia foi o sol para nós.

 

Mas este episódio foi diferente…

Como ambos nunca supuseram que um dia não se voltariam a ver, nunca o medo assombrou a relação, e como o término da mesma foi ainda numa etapa deveras precoce o efeito foi aquele que os antigos romanos desejavam alcançar com o suicídio numa idade ainda muito jovem…levar para a morte a beleza da aurora da vida!

Naquela etapa do seu breve e galante relacionamento os dois ainda se encontravam nessa página que poderemos chamar-lhe de “fase Adónis”, e como o destino ceifou o tempo à mesma, não se propiciou circunstância para nenhum dos dois mostrar o que todos temos de “menos bom”…

 

“Nunca poderei esquecer aqueles olhos enormes que me esperavam no carro, e que se iluminavam ao ver-me sair da porta dos meus pais... nunca lhes consegui resistir e iluminava-me também, sorrindo compulsivamente!

Acho que ainda hoje quando passo pela entrada do prédio, vejo qualquer coisa, um qualquer brilho…”

 

Não consigo deixar de pensar o quanto é injusto o facto que a beleza, perfeição, chamem-lhe o que quiserem, não passe apenas de uma questão temporal…uma memória isolada de todas as outras, pois só desta forma se mantém livre de mágoa e amargura.

 

 

Inocêncio da Silva
publicado por Inocêncio da Silva às 18:10

10
Jan 08

Boas noites e bons ventos…

Para os que só agora se abeiram deste balcão deixem-me pô-los ao corrente desta nossa salutar disputa…

 

Ora, o rio corre desta forma:

 

Temos deste lado um franco confrade nosso que nos traz um dilema seu à discussão.

Creio que o ponto fulcral do mesmo reside na classificação a dar-lhe, e caso isso aconteça tenho a convicção que o fim do túnel está a poucos sopros de distância.

Convoco os presentes a opinarem sobre tal conflito para podermos arrepiar caminho em direcção a umas merecidas birras…isto de navegar em águas agitadas dá muita sede…

 

…”Enforcado”, se bem que esta classificação em nada altera a nossa rota rumo à falésia…

 

Este companheiro tem em muita estima uma amiga íntima sua que vem muito além da data do seu matrimónio.

Apesar de nunca ter havido qualquer tipo de contacto físico, sempre houvera uma atracção entre estes dois convivas, e identificado por ambos.

Nunca deram a conhecer os seus ardentes desejos um ao outro, mas a verdade é que algo habitava as suas entranhas dando-se a conhecer apenas através de sonhos e um ou outro suspiro…até ao dia!

Rompeu-se a vergonha e um ou outro sentimento que os levava a ocultar o seu desejo em se consumirem entre gemidos e invocações ao Todo Poderoso (que bonita imagem, digam lá!!!) e deu-se a conhecer a vontade, o percurso das mãos pelos corpos, os toques, os beijos, geografia, toponímia, vezes e vezes sem conta… resumindo um verdadeiro tratado anatómico numa vertente kamasutra.

Mas ficou apenas a vontade e as palavras escritas através de um malfadado sms (ou vários, pois a noite foi longa…), nunca a cópula nem tampouco um beijo mais ousado teve lugar nos seus corpos, só no desejo e na boca (leia-se dedos).

 

Como já dei a conhecer noutras oportunidades, na minha opinião um homem traduz-se no mundo através das suas acções, palavras e pensamentos e como tal deve ser avaliado de acordo com estas formas de expressão.

 Poderão alguns contestar esta minha forma de pensar e serem levados a ter piedade da minha pessoa e de todos os desgraçados que pelam pela minha vida, tal é complexa forma deste marialva ver e entender a vida.

 Sim, porque segundo este prisma a que chamo “mente” fui e sou mil vezes infiel…e quem não é??? Apenas aqueles que esquecem parte de si e renegam o pensamento para além da existência, até porque a emoção não se vê e tampouco se faz ouvir em orelha alheia…

 

Então, Fiel ou Infiel?

 

A minha opinião já todos a conhecem – Infiel –, mas também advogo que ninguém tem moral para condenar quem quer que seja nesta arena. Nem os mais sábios conseguem ver todas as pontas.

Lembro que nunca um beijo sequer foi trocado entre ambos os intervenientes, e que apesar da vontade ser colossal, ambos respeitaram sempre a condição de comprometido do nosso confrade e amigo, ele sendo fiel à sua relação, e ela à vontade dele.

 

Complicado, não? Ou nem por isso? Deixo ao critério de quem se deixar tocar…


 

Inocêncio da Silva

publicado por Inocêncio da Silva às 12:39

03
Jan 08

 

Acabei de reencontrar um velho amigo de escola que não cruzava o meu horizonte hà já alguns anos…

Veio ao meu encontro por intermédio de um cliente desta taverna que lhe deu a conhecer esta minha nova iniciativa e as direcções de como me encontrar.

…Mas o Homem que se apresenta perante mim esta noite contrasta em larguíssima margem com o débil, frágil e tímido rapazito que estudou comigo há muito tempo atrás…

Verbalizo-vos que a sua faustosa presença não se deve à sua compleição física, mesmo que a mesma seja agora algo impressionante, agora é um homem feito e ninguém duvida disso.

 

Construiu-se o homem de dentro para fora” segundo ele, e o corpo de alguma forma acompanhou o processo.

À sua espera está uma mulher de tirar o ar ao mais atlético dos nossos confrades, mais uma conquista sua em mais um virar de página.

Questionei-o sobre a mudança em si, o volte-face, a mutação, mas a resposta é vaga e inconclusiva.

Conheço-me como ninguém, e ninguém me conhece desta forma…”, diz-me entre risos, testando a minha agudeza e carácter…mas a verdade é que faz todo o sentido.

 

Foi sempre dotado de uma perspicácia e inteligência únicas no nosso meio, e tais marcas levaram-no a cravar os olhos nas leituras mais do que qualquer outro.

Era também um puto de fé forte e acreditava mais naqueles bracinhos fracos que Deus lhe dera que qualquer outra alma da nossa paróquia.

Nunca esperei vê-lo assim tão bem, nem nunca esperei tal êxito mas é sem duvida uma agradável surpresa.

 

“Nos tempos que correm rareiam os homens de fé. Ninguém crê em nada e as mentes tornam-se desabitadas, proporcionando assim espaço para todo o tipo de invasões nefastas e moradores maliciosos. Uma mente vazia é um chamariz ao oportunismo e à bagatela da vida…

Quando surge alguém com tenaz convicção dos seus princípios e pés fincados sobre o solo, podes não acreditar Inocêncio mas é como se o Salvador regressasse à terra…

As pessoas precisam de algo em que acreditar, precisam de alguém em quem acreditar, precisam de alguém que acredite em algo…

O Homem tem sede e grita por água…enquanto se afoga num rio!”.

 

…e saiu a rir-se, convicto da sua verdade e da sua fé.

 

 

Inocêncio da Silva
publicado por Inocêncio da Silva às 13:20

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