Boas noites e bons ventos,
Apresento-me, Inocêncio da Silva e este homem que se abeira de mim é o Tony.
O Tony já faz parte da casa.
Homem das noites boémias, mas não como interveniente. O Tony é segurança da noite, (vulgo gorila…) de meios pândegos e extremamente pesados de conteúdo.
Dotado de uma forma física invejável, resultado de muitos anos de culturismo, foi em tempos nome cimeiro nos meandros da competição do culto do físico…
Á algum tempo atrás, o Tony conheceu, através de amigos em comum, uma jovem Psicóloga, a exercer, que reconheceu alguns atractivos ao nosso amigo logo ali no primeiro encontro…
Aquele físico tocava-lhe particularmente…
O seu dilema era a “possível” falta de inteligência e a (in) capacidade de raciocínio que este culturista deveria ter. Erradamente, a opinião geral das massas consiste em rotular estes espécimes como energúmenos, lentos de raciocínio, os seus diálogos estão limitados ao seu meio envolvente, etc…Burros e broncos esse pessoal do ferro!!!
Ela gostava de um homem que lhe desse luta verbalmente, que desse ímpeto a uma qualquer conversa por muito banal que fosse, que soubesse mais que ela sobre um qualquer assunto mundano, enfim alguém com quem se pudesse conversar, coisa que dificilmente um tipo do ginásio conseguiria preencher em si.
Mas o Tony não é o típico gorila de ginásio…
Letrado q.b. foi até onde pode ir em termos de estudos escolásticos, e apesar de não ter seguido o rumo academial, nunca encerrou a sua mente a novos desafios nem tão pouco limitou os seus horizontes ás paredes do ginásio, ou á porta do local onde fazia segurança.
(…) E a conversa fluía, assuntos diversos, banalidades do quotidiano, uma dose de humor impressionante, a profundidade de um ou outro pensamento sobre a vida…
A partir de certo paragrafo deste encontro trivial, o Tony leu nos olhos da moça, passo a citar:
“ Ela quer comer-me!” – Fim de citação.
E queria mesmo…mas como pode ele verificar isto que me conta, e que eu vos relato? Simples caros Watson´s, depois de algum tempo eles acabaram por formar um casal, e durante essa relação – que durou alguns anos – ele teve oportunidade de tirar as duvidas relativamente ás primeiras impressões que a rapariga tirou sobre a sua pessoa naquela época.
Começaram as saídas casuais, os telefonemas, os convites, etc que se foram proporcionando de acordo com a agenda de cada um, e durante os quais o nosso amigo Tony verificava o desejo da rapariga em consumar o acto da copula com ele, e que aumentava a cada cinema, jantar, ou simples conversa limitando-lhe o espaço de manobra.
O casaco começava a ficar apertado ao nosso amigo Tony.
Penso que será pertinente dar a conhecer um pormenor sobre a forma de pensar do Tony:
Ele estava a mostrar á Senhora Doutora que, por ser apenas um mero segurança, não queria dizer que fosse fácil de caçar. Gostava, tal qual qualquer homem, de ser cortejado, e não queria ser apenas “usado” para determinado fim mesmo que o desejo do mesmo ardesse calorosamente dentro de si, roubando-lhe o sono durante algum tempo (Meu Deus, se te apanho…).
- “ Calma Tony, que ela ainda tem que penar algum tempo…” – dizia ele aos botões dos seus boxeurs.
Como a vontade é de ferro, e se Mahomed não vai á montanha, a montanha vai a Mahomed, a jovem e ansiosa rapariga engendrou uma forma de encurralar o nosso Tony para que lhe fosse difícil escapar: Um jantar a dois em casa dela.
Fez-se o convite que foi aceite sem reservas.
O cenário estava montado com luz de velas, musica ambiente a condizer, enfim a armadilha perfeita e devidamente encapotada.
“ Ela quer comer-me hoje e aqui!” pensou o Tony ao observar o magno esforço da moça em lhe assaltar o estômago e os sentidos, para depois o consumir em luxúria (…)
O jantar fluía junto com a conversa sem que assuntos íntimos fossem abordados…até á sobremesa e café!!!
Nesse parágrafo, e segundo o nosso Tony, o espaço de manobra começou a fechar-se, dando-lhe uma sensação claustrofobica e desconfortável, enquanto a rapariga o envolvia com o seu jogo.
Mas de súbito, o nosso honroso Tony desembainha a seguinte afirmação:
“ Não sei o que pensas de mim, mas eu não sou daqueles de ir para a cama logo nos primeiros encontros.” Ponto final, paragrafo.
Eu, Inocêncio da Silva, confesso que fiquei de cara á banda, vulgo queixo caído, com este volte face inesperado do meu probo amigo Tony …
Resultado: no dia seguinte o nosso Tony recebeu no seu domicilio um ramo com 50 rosas como mostra de grande respeito, consideração e também como pedido de desculpa, por ter de alguma forma ofendido a susceptibilidade de tão digno carácter e ter erroneamente rotulado este espécime único como “mais um…”.
Podemos concluir que, se usarmos os métodos femininos contra o feminino, o efeito supera em muito aquele que tem na nossa espécie quando somos alvos do mesmo.
Portanto caros confrades, façam-lhes a elas aquilo que elas vos fizeram a vós, porque alem da vendeta, o nível a que elas nos elevam dificilmente será superado pela concorrência, que basicamente se restringe ás suas ridículas e muito gastas armas.
Inocêncio da Silva