Dissertações e relatos de dois taberneiros sobre coisas mundanas...e não só.

04
Nov 08

…”Tive que recusar Inocêncio, tenho muito em jogo! Tu sabes a minha vida!

 

“E ela, como está a reagir agora?”

 

“Aparentemente parece ter aceite…finalmente! Mas ainda lança alguma ironia e escárnio dúbio por sms…”

 

“Ainda bem probo amigo, ainda bem…”

 

“Até amanha Inocêncio.”

 

 “Até amanha Marialva…” exprimo eu enquanto solto algumas gargalhadas!

 

…e saiu pela porta desta taverna noite dentro!

 

 

Boas noites e bons ventos…

 

Sinto-me na obrigação de pedir perdão por não ter voltado prontamente os meus préstimos a ti, confrade amigo, mas estava de ouvido aguçado escutando o episódio que este velho amigo, que agora saiu, me narrava!

 

Contava-me ele que foi desafiado por uma dama para uns embrulhanços e amassos durante o tempo livre de ambos que, por vezes, iam tendo…

Ora este desafio não traria nada de inovador e/ou bicudo se este meu confrade e amigo fosse um intrépido e aventuroso jovem solteiro…o que não é o caso!!!

Na verdade estou a falar-vos de um homem casado, com descendência, e com uma vida organizada nesse sentido, mas por força das circunstâncias viu-se levado a se expor a alguns ambientes onde, por vezes, um tipo seguro, confiante, inteligente e eloquente é tido como algo muito apetecível e desejado.

A condição social e pessoal dos espécimes que frequentam os ambientes de que falo, muitas das vezes é ignorada pois fica fora de portas, logo “longe dos olhos, longe do coração…perto do desejo alheio!” – esta máxima é uma das mais populares e usuais nos supracitados ambientes.

 

Segundo ele, e logo após se ter apercebido da investida da jovem, tentou demover o sentimento que a movia na sua direcção, e ostentando a sua melhor linguagem no debate, mostrou-lhe (ou tentou…) que a sua condição não lhe permitia certos comportamentos e aventuras.

Prontamente foi-lhe dado a conhecer que as condições em que se dariam as “refregas” seriam em ambiente de conjura, e longe de olhares curiosos pois na condição em que ela própria se encontrava, este tipo de comportamento é condenável…resumindo: era comprometida também! Fez questão de lhe assegurar que não poderia haver sombra de dúvida relativamente aos parâmetros que guiariam esta relação: era uma relação de desejo físico apenas, de acordo com a agenda de cada um, e que existiria o tempo que democraticamente, e após referendo, seria determinado para a mesma.

Resumindo: duraria enquanto fosse bom, desde que houvesse disponibilidade!

 

O nosso confrade congelou sob estas palavras…

 

Achou-se moralmente obrigado a declinar tal convite…fora apanhado desprevenido e encontrava-se algo abalado com a situação. Precisava de algum tempo e espaço para digerir a ocorrência. Sabia que ela (a moça) voltaria á carga assim que possível, logo não se preocupou muito com a ineficácia deste primeiro “não”, pois pretendia apenas tempo para ponderar…

 

Acho pertinente dar a conhecer um pouco da psique masculina no que diz respeito a estes assuntos, caro confrade…

Este tipo de “aventura” (ou o culminar da mesma) é o que move qualquer homem casado, acima dos trinta, com uma vida relativamente monótona ou insípida. Na verdade, algo deste calibre está entre os mais bem cotados troféus que um homem nas condições que acabei de descrever, poderá aspirar a ter na prateleira das conquistas sobre “terras cor-de-rosa”. No entendimento de certos espécimes masculinos este episódio é algo que habita o seu imaginário mais íntimo, e será desnecessário dizer que pensar sequer em recusar, é só por si, um pecado capital.

Adiante…

 

…o nosso confrade sabia da responsabilidade que tinha nos ombros, e começava a sentir-se algo encurralado. Sempre que tentava esgrimar algum argumento baseado nalgum bom senso, era prontamente contra-atacado pela segurança e à-vontade que a moça demonstrava nestas questões de infidelidade!

Como já se passara algum tempo, o nosso probo amigo – já sem argumentos validos, e a começar a por em causa a sua masculinidade – começava a cometer alguns erros e a entrar em contradição em alguns dos seus discursos.

  Era a oportunidade que a predadora precisava para desferir os golpes mais profundos de que dispunha no seu arsenal…

 

Não…não…e não!!!

 

“Mas porquê, qual é o teu medo?” perguntou ela a dada altura.

 

“Não é medo…são princípios. Há um ponto o qual eu não ultrapasso pois nunca mais poderei regressar…lamento!” falou desta forma o coração do homem.

 

O peso que tinha no peito desapareceu na bruma que era a sua vida nesse momento, e o sol voltou a brilhar…mas não por muito tempo!

 

Aparentemente ele tornara-se em algo que nunca ambicionara ser: Aquele que recusou.

Era agora um fruto não só proibido mas também raro, logo a luta tinha apenas começado. Os ataques tornaram-se mais ousados, mais arriscados, e o suposto secretismo que a moça tanto desejava para a desejada relação estava seriamente comprometido...

A situação começava a tomar os contornos de tragedia até que ele, pondo de lado parte das suas marcas mais distintas, avançou estoicamente na direcção da responsável pelo inferno que se tornara a sua vida, e armado com palavras fortes e duras deu a conhecer o que lhe ia na alma.

 

Tinha se sentido lisonjeado por ter sido “escolhido” por tão formosa dama para um relacionamento amoroso…este sentimento tinha sido substituído por desonra.

Sentia-se ofendido por ter sido rotulado como “mais um”, e quando lhe mostrou que não o era, esperava apenas reconhecimento por parte dela, e não desdém.

Pensava que o sentimento que a movia na sua direcção era minimamente nobre, mas na verdade ela não tinha intenção de o respeitar, pois também não respeitou a sua escolha quando recusou o “embrulhanço”…

 

 

Concluo algo: um “não” é sempre um “não”, seja oficialmente ou oficiosamente, seja de dia ou de noite, seja na “saúde e na doença” ou apenas “entre lençóis”…

O “não” é raro e inconclusivo dentro desde enquadramento.

Negar este tipo de desafio é hoje, para a sociedade actual, algo inconcebível, e todo aquele que ousar invocar tal palavra é bom que tenha noção da dimensão da aventura a que se lança.

 

“No reino da terra e da carne tudo o que negares virá até ti, e tudo o que aceitares te fugirá.” Disse um dia alguém…

 

 

Inocêncio da Silva

 

publicado por Inocêncio da Silva às 13:43

Será que "este tipo" estará a viver a sua recompensa? :)
Anónimo a 24 de Julho de 2010 às 00:42

Este tipo, neste momento está a viver um sonho...
Acreditou que estava guardado para algo transcendental e, como tal, agiu sempre de acordo com o que verdadeiramente acreditava.
Acreditou que o seu dia chegaria, nem que fosse apenas isso mesmo, um só dia...
Negou sempre o trivial e redundante, e esperou até desesperar e desistir...até um dia!


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