Boa noite, mui distinto confrade…
- “Ainda não está a porta aberta, mas encosta a pança a esta caneca de ferro, farta a sede porque a noite é nossa e do mundo…”
Apresento-me… – “Taberneiro Inocencio da Silva, e mais alem o Lazaro Alvares de avental escarlate e de cadeira
O Lázaro já depôs a dita e nela se assenta, enxugando a fronte com a mão. Ainda não abrimos e a coisa já aquece.
A noite vai ser grande, porque a nossa horda é dura de vida, e a intensidade da coisa vem nos olhos e joga-se a dinheiro – guardas e larápios, corsários e embarcadiços, cozinheiros de baiuca, estadistas e carteiristas, bardos e trovadores, o gitano e o burro, o artista e o abade, a meretriz e a velhota da venda, o marido e a patroa, sem farpela nem corpo, só alma.
Alma de gente com uma mão cheia de contos e um punhado de aventuras para ofertar a quem beba ou simplesmente escute…
Nomes? bem uns chamam-se Inocêncio outros Lázaro, mas são gente, são a gente. Vem de longe mas são de perto, são do peito e perto do coração, e vem beber ao entendimento coisas cândidas como a mágoa e o vaticino da vida.
Sirvo a galhofa para companhia, pois o fardo é pesado e toda a ajuda é bem-vinda.
Que a fortuna nos bafeje, porque a demanda é casta e franca, tal cruzadas á Terra Santa. Santos venham por bem e Demónios…só para recitar narras de terras de além-mar e de além-vida, que inspirem a corja e atice o desejo de ventura.
Está na hora. Abra-se a porta e que o clamor das gargantas aqueça mais que as labaredas que agora dançam e extasiam…
- “Altos e mui distintos aliados, como posso honrar a vossa presença?…” –
...e assim começa...
Inocêncio da Silva