Dissertações e relatos de dois taberneiros sobre coisas mundanas...e não só.

23
Ago 07

“…Sugiro o seguinte, vingança.

Sim, vingar-te da cobra que envenenou a intriga que a aranha teceu.”

 

Ele fitava-me nos olhos completamente sumido no pensamento, não fazia a mínima ideia do que raio estaria eu a dizer ou a querer fazer, e soava-lhe algo disparatado e fora de tempo…

 

Já fazia algum tempo que este meu recto amigo pusera as botas dentro desta modesta taberna, e quando o fez carregava consigo uma aventura que tinha tanto de inabitual como de apaixonante aos olhos deste tasqueiro ávido de ciência.

E esta minha avidez de conhecimento ornamentando-me o carácter, e que está na ponta da língua do meu português, faz de mim um tipo curioso, interessado, bom ouvido e melhor conversa, humilde é certo mas de olhos inflamados quando me relatam um conto, pensamento, filosofia…e quantos contadores de tretas, pensadores desempregados e filósofos de vão de escada não espalmam as nádegas nos meus bancos por hora…muitos digo-vos, quase tantos como as suas narras e filosofias.

Um em particular, deixou esquecido em cima da tábua do balcão a seguinte divagação: “As pessoas pensam, e pensam sempre…independentemente do que façamos vão pensar sempre algo, bem ou mal mas sempre algo…e uma das piadas da vida é brincar com o que as pessoas pensam, pondo-as a pensar o que nós queremos…”

- “Cum a breca…” – lembro-me de ficar a pensar.

 

…” E o que pensas fazer?” – interrogou-me o meu amigo.

 

“ Chegou a hora de adornar a tua imagem criado pelas peçonhentas criaturas da alcovitice, e já que tens a fama e não a desejas, tudo não passará de um veneno contra outro veneno…um boato lançado por ti ao vento.”

 

A criatura parecia que tinha chupado limão, tal era a expressão que tinha a fronte…

 

…o ardil será o seguinte:

 

 - Primeiríssimo ponto será escolher o rato que espalhará o veneno pelo povo que habita o teu mundo, e esperar que a peste se espalhe;

 

 - Já que o meu infiel amigo foi prevaricador sem o ser, vamos prevaricar em abundância e exuberância q.b. não olhando a valores pecuniários ou limitações de ordem alguma;

 

 - E por fim, esperar para ver resultados, pois se formos bem sucedidos o mais provável será um veneno anulando outro, assim que este que lançamos agora bater nos dentes das víboras…ou na pior das condições, serás reconhecido como um transgressor luxurioso que não mede a mão quando gasta com uma amante…

 - “ É publicidade que não se compra meu amigo” – disse o vosso Inocêncio enquanto soltava uma generosa gargalhada.

 

 

Sempre gostou de escutar as minhas narras e divagações, mas agora que se sente enovelado numa delas, o seu sorriso esbateu-se…mas será uma boníssima forma de comprovar as minhas “teorias da treta”, assim as intitulava ele.

 Pronunciado isto, lá seguiu ele com esta cabala na algibeira. Se a irá utilizar, só o tempo nos dirá…

 

Passou-se algum tempo desde o nosso ultimo bater de caneca, mas o probo amigo regressa agora ao meu pasquim e o sorriso que ostenta, alem de me contagiar, só pode ser um prenúncio de boa nova…

 

 

 - “ …lancei o boato através do tipo mais desbocado que encontrei, e correu bem visto ele ter memoria curta e já ter esquecido quem lho disse. Sem provas que me incriminassem, fiquei a assistir ao desenrolar da trama na plateia…lá ia ouvido algo como isto:

- …gastou cerca de € 300 num quarto de um hotel, e parece que não foi apenas uma vez!...ah pois é.”

- …alugou carro e tudo para não serem reconhecidos, e ainda diz que a vida está difícil. Pudera, a gastar o que gasta com as amantes…”- pois é Inocêncio, amantes, plural, e eu que dissera que tinha gasto apenas € 100 no quarto…deve ser da inflação.

 E sem me sair nenhum do bolso, estou cotado entre os 10 mais desejados do local, lado a lado com os putos de vinte e poucos anos e de carinha laroca, e dos que o papá abona, todos os anos, generosas somas para os meninos comprarem o topo de gama da marca X, Y e Z em termos de locomoção…”

 

    Este tipo saiu melhor que a encomenda…alvíssaras, pois nem eu conseguiria melhor. Mais uma cabala que sai deste estabelecimento e chega rotulada de sucesso.

   Aparentemente não foi possível apurar quem seriam as cobras e as aranhas, pois não se fez sentir o eco…mas o ego deste homem voa como não voava á muito.

    Gloria a todos os que triunfam sobre as mesquinhices da vida em sociedade, e que jogam a honra aos dados da fortuna…

    Será inevitável que esta conjura se dissolva com o tempo, ou com o desmentir de quem começou tão sórdida alcovitice…sim, porque a inveja das cobras e das aranhas não permitirá que aquele mostro prevaricador que criaram juntas, continue a sobrevoar os céus da gloria…

 

- “ Bebamos então meu camarada, pois hoje é dia de comemoração. Não é todos os dias que uma cobra morde o próprio rabo, ou que uma aranha se deixa enovelar na sua própria teia…Hail, hail, hail….” 

 

 

 

publicado por Inocêncio da Silva às 23:08

Registe-se que esta narrativa é o relato de uma situação real...mas algo adornada.

Inocêncio da Silva a 24 de Agosto de 2007 às 09:49

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